Por ocasião do Seminário LEUCENAS EM PIRACICABA- PROBLEMA E SOLUÇÕES" que acontece na proxima terça-feira, 13/08, publicamos aqui o texto do artigo do Prof. Marcelo Leão, PhD
Página Verde
Conservação ambiental
Saiba mais:
Uma espécie vegetal pode
ser considerada uma praga quando aumenta a sua densidade populacional em níveis
anormais, afetando direta ou indiretamente o ambiente.
AMEAÇA À BIODIVERSIDADE
Leocena: espécie exótica invasora a ser controlada
A intenção até que
foi boa: quando se pensou em cultivar em larga escala a espécie Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit no
Brasil, cujo nome popular é leocena, pensava-se em fornecer uma alternativa de ocupação
de solos secos, calcários e degradados, principalmente na região do Nordeste, utilizando
uma planta vigorosa, pouco exigente, e de fácil cultivo.
Essa espécie é uma
leguminosa perene, originária da América Central que se dispersou para outras
partes do mundo em face da versatilidade de utilização, podendo ser empregada
para a alimentação animal, para a produção de madeira e de carvão vegetal e para
o melhoramento do solo.
Devido à facilidade de cultivo e capacidade de
alastramento, essa planta pode ser encontrada em quase todas as regiões
tropicais, e, na década de 1980, já havia mais de dois milhões de hectares
cultivados no mundo.
Sua introdução no Brasil teria ocorrido em 1940, no
estado de São Paulo, por meio de sementes trazidas pelos técnicos do Serviço
Florestal do Rio de Janeiro. A partir daí, vários trabalhos acadêmicos foram
publicados, aconselhando o seu plantio em larga escala em pastagens e sistemas
florestais agropastoris, principalmente em regiões áridas, por ser uma boa
fonte de proteínas na alimentação animal.
Além disso, suas folhas permanecem verdes durante todo
o ano e, mesmo durante os períodos de seca, apresenta crescimento rápido, alta
capacidade de rebrota, boa sobrevivência e capacidade de fixação do nitrogênio
do solo.
O que ninguém esperava, porém, é que ao cair em solos
férteis e profundos, a leocena espalhou-se rapidamente e se transformou em uma
agressiva espécie invasora, produzindo grande quantidade de sementes que
germinam rápida e facilmente. Tornam-se, em pouco tempo, plantas muito fortes e
resistentes que sufocam toda a vegetação que encontram pela frente.
A temática da invasão de espécies exóticas, também
chamada de invasão biológica, é relativamente recente no meio científico e
pouco conhecida pela sociedade, mas é a segunda causa da perda da
biodiversidade do planeta. Quando são introduzidas em novos ambientes, essas
plantas adaptam-se com facilidade e ocupam o espaço das espécies nativas,
produzindo desequilíbrios irreversíveis.
Foi o que constataram, por exemplo, os pesquisadores
Christopher Thomas Blum e outros, analisando a arborização do município de
Maringá (PR), em 2008. Nesse trabalho, foi cadastrada quase a totalidade da
vegetação arbórea existente, verificando-se que apenas 24% era nativa do bioma
em que se inseria aquela cidade.
Além da Leucaena
leucocephala, as espécies Hovenia
dulcis (uva-do-japão), Melia azedarach (cinamomo) e Tecoma stans (ipê-mirim) também
apresentaram grande capacidade de invasão biológica, dispersando-se
vigorosamente, a partir das vias públicas, florestas ciliares e áreas
degradadas.
A situação é praticamente igual em Piracicaba. Basta
olhar as margens do rio Piracicaba no trecho que passa pela zona urbana, nos
terrenos abandonados, às margens de rodovia para constatar a invasão dessas
espécies invasoras, principalmente a leocena.
Essa situação exige uma ação urgente do poder público,
que devidamente amparado pelas licenças ambientais, deve proceder ao manejo
desse tipo de vegetação invasora e a substituição gradativa dessas espécies por
outras, preferencialmente nativas da região.
É também importante que, além dos técnicos, a própria
população fique conscientizada da problemática das espécies invasoras, evitando
o seu plantio e priorizando o cultivo de espécies arbóreas nativas da Floresta
Estacional Semidecidual – que caracteriza a vegetação original de Piracicaba –
agindo assim com maior responsabilidade ambiental ao valorizar espécies e
ecossistemas autóctones da região.
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