sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Artigo do Prof Marcelo Leão, sobre as leocenas


Por ocasião do Seminário LEUCENAS EM PIRACICABA- PROBLEMA E SOLUÇÕES" que acontece na proxima terça-feira, 13/08, publicamos aqui o texto do artigo do Prof. Marcelo Leão, PhD 


 Página Verde                                
Conservação ambiental
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Uma espécie vegetal pode ser considerada uma praga quando aumenta a sua densidade populacional em níveis anormais, afetando direta ou indiretamente o ambiente.



AMEAÇA À BIODIVERSIDADE
Leocena: espécie exótica invasora a ser controlada

A intenção até que foi boa: quando se pensou em cultivar em larga escala a espécie Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit no Brasil, cujo nome popular é leocena, pensava-se em fornecer uma alternativa de ocupação de solos secos, calcários e degradados, principalmente na região do Nordeste, utilizando uma planta vigorosa, pouco exigente, e de fácil cultivo.
Essa espécie é uma leguminosa perene, originária da América Central que se dispersou para outras partes do mundo em face da versatilidade de utilização, podendo ser empregada para a alimentação animal, para a produção de madeira e de carvão vegetal e para o melhoramento do solo.
Devido à facilidade de cultivo e capacidade de alastramento, essa planta pode ser encontrada em quase todas as regiões tropicais, e, na década de 1980, já havia mais de dois milhões de hectares cultivados no mundo.
Sua introdução no Brasil teria ocorrido em 1940, no estado de São Paulo, por meio de sementes trazidas pelos técnicos do Serviço Florestal do Rio de Janeiro. A partir daí, vários trabalhos acadêmicos foram publicados, aconselhando o seu plantio em larga escala em pastagens e sistemas florestais agropastoris, principalmente em regiões áridas, por ser uma boa fonte de proteínas na alimentação animal.
Além disso, suas folhas permanecem verdes durante todo o ano e, mesmo durante os períodos de seca, apresenta crescimento rápido, alta capacidade de rebrota, boa sobrevivência e capacidade de fixação do nitrogênio do solo.
O que ninguém esperava, porém, é que ao cair em solos férteis e profundos, a leocena espalhou-se rapidamente e se transformou em uma agressiva espécie invasora, produzindo grande quantidade de sementes que germinam rápida e facilmente. Tornam-se, em pouco tempo, plantas muito fortes e resistentes que sufocam toda a vegetação que encontram pela frente.
A temática da invasão de espécies exóticas, também chamada de invasão biológica, é relativamente recente no meio científico e pouco conhecida pela sociedade, mas é a segunda causa da perda da biodiversidade do planeta. Quando são introduzidas em novos ambientes, essas plantas adaptam-se com facilidade e ocupam o espaço das espécies nativas, produzindo desequilíbrios irreversíveis.
Foi o que constataram, por exemplo, os pesquisadores Christopher Thomas Blum e outros, analisando a arborização do município de Maringá (PR), em 2008. Nesse trabalho, foi cadastrada quase a totalidade da vegetação arbórea existente, verificando-se que apenas 24% era nativa do bioma em que se inseria aquela cidade.
Além da Leucaena leucocephala, as espécies Hovenia dulcis (uva-do-japão), Melia azedarach (cinamomo) e Tecoma stans (ipê-mirim) também apresentaram grande capacidade de invasão biológica, dispersando-se vigorosamente, a partir das vias públicas, florestas ciliares e áreas degradadas.
A situação é praticamente igual em Piracicaba. Basta olhar as margens do rio Piracicaba no trecho que passa pela zona urbana, nos terrenos abandonados, às margens de rodovia para constatar a invasão dessas espécies invasoras, principalmente a leocena.
Essa situação exige uma ação urgente do poder público, que devidamente amparado pelas licenças ambientais, deve proceder ao manejo desse tipo de vegetação invasora e a substituição gradativa dessas espécies por outras, preferencialmente nativas da região.   
É também importante que, além dos técnicos, a própria população fique conscientizada da problemática das espécies invasoras, evitando o seu plantio e priorizando o cultivo de espécies arbóreas nativas da Floresta Estacional Semidecidual – que caracteriza a vegetação original de Piracicaba – agindo assim com maior responsabilidade ambiental ao valorizar espécies e ecossistemas autóctones da região.

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